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Venha de fora cá para dentro

11 de outubro de 2021

Ao contrário de muitos Portugueses que, na primeira oportunidade, fogem para o litoral, eu sempre gostei do interior do País, onde as pessoas são mais genuínas, menos interesseiras e muito mais generosas. Faz-me, por isso, alguma confusão que se continue a apostar no desenvolvimento das grandes cidades do litoral e que se façam políticas esparsas de apoio ao interior onde, em comparação, existe uma maior qualidade de vida, como vos tentei explicar no artigo anterior.

Escrevi aqui recentemente que o COVID, o fenómeno do teletrabalho e o empobrecimento da população em Portugal tem levado a um regresso das populações ao interior. Confesso que não sei se isto se irá traduzir num fluxo sério e constante que possa tornar-se doutrina ou se é algo esparso que, na primeira oportunidade irá levar a um retorno ao sobrelotado litoral.

Seja como for, foi com algum agrado que vi que a medida Emprego Interior MAIS – Mobilidade Apoiada para um Interior Sustentável foi agora alargado às pessoas residentes em países estrangeiros, que decidam mudar-se para o Interior de Portugal para trabalhar. Para estes, que descobriram Portugal, não serão certamente os cerca de 5 mil euros de apoio financeiro directo que será atribuído a quem opte por trocar o litoral pelo interior ou, no limite, que venha para o interior de Portugal directamente do estrangeiro. Mas os números iniciais desta medida falam por si: de acordo com o que foi divulgado pelo Governo, nos primeiros tempos deste programa, tinham sido recebidas 560 candidaturas, o que se traduziam em cerca de 1000 pessoas, na sua maioria candidatos com menos de 34 anos.

Esta aposta não nos deveria surpreender. No final de contas, os estrangeiros procuram Portugal para residência temporária devido às vantagens fiscais inerentes, mas também o fazem para residência permanente. Por causa do aumento de empresas internacionais a estabelecer-se em Portugal, mas porque nos seus empregos podem trabalhar remotamente, usufruindo das excelentes condições de segurança, boas infra-estruturas tecnológicas, mas também sol e boa gastronomia que Portugal oferece.

Se aliarmos este movimento a outro, que se traduz na aquisição de imóveis de estrangeiros que escolhem Portugal para gozarem a sua reforma, temos aqui um caldo atraente de renovação do interior de Portugal. Um fenómeno interessante que mostra o que é, infelizmente, óbvio: a maioria de nós só dá valor ao nosso território quando este é descoberto por alguém que não fala Português.

Será, talvez, o preço a pagar para que o interior possa ser respeitado e valorizado como uma opção para todos os que escolhem viver fora dos grandes centros urbanos e do litoral. Pelos vistos, com ou sem apoios do Estado, vir de fora cá para dentro é muito mais fácil do que ir para fora cá dentro.

Francisco Mota Ferreira

Consultor imobiliário