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Quem banca a Banca?

25 de janeiro de 2021

Quando era miúdo recordo de me ensinarem a respeitar as forças da ordem porque estas existam para servir e, ao mesmo tempo, nos proteger. Sempre que ouvia esta conversa, o meu tio, que tinha uma certa costela anarquista, lançava a pergunta para a confusão: “e quem guarda a Guarda?”

Lembrei-me desta evocação de infância quando recentemente li que Novembro do ano passado foi o mês onde a Banca mais emprestou dinheiro para comprar casa desde 2016. Segundo dados divulgados pelo Banco de Portugal, o volume dos empréstimos concedidos pelos bancos aos particulares ascendia no final de Novembro de 2020 a 120.415,5 M€, sendo que 94.749,7 M€ destes se destinavam ao empréstimo à habitação. Ainda no que à habitação diz respeito, este valor de Novembro só tem paralelo com Outubro de 2016, quando foi atingido o montante de 94.907,3 M€.

Longe de mim querer aqui ser ave de mau agoiro, mas tudo isto é estranhamente repetitivo e familiar.  O Banco de Portugal, que é o regulador e autoridade a quem compete fiscalizar a Banca, divulga estes números e temo que pouco ou nada esteja a fazer para perceber se estes empréstimos têm cobertura e suporte dos bancos que os concedem.

A memória é uma coisa tramada e lembro-me que, por causa do excesso de optimismo da Banca (e dos desvarios dos seus responsáveis), os Portugueses já foram chamados a contribuir para o BPP, o BPN e o BES. E podemos não ficar por aqui: as notícias dizem-nos que o Montepio é, ao que tudo indica, uma bomba-relógio. E relativamente aos restantes pedem-nos um salto de Fé para acreditarmos que estão sólidos.

Até podem estar, mas como também sabemos, no reverso desta medalha temos, claro está, as moratórias. Uma previsão do Banco de Portugal dá-nos conta que há cerca de 13 mil milhões de euros de crédito que pode não ser pago por empresas e famílias até Setembro de 2021, em benefício das moratórias bancárias. E chegados ao mês fatídico, veremos quanto é que deste valor a Banca vai conseguir recuperar em face do endividamento crescente das famílias e das empresas.

Dito isto, infelizmente já sabemos o que nos espera. Quando confrontados com o que se está a passar, os responsáveis do Banco de Portugal vão provavelmente alegar amnésia sobre os alertas e denúncias que foram sendo dados ao longo destes meses, a Banca vai pedir ajuda ao Estado porque os seus clientes não estão a pagar os empréstimos, o Estado vai sobrecarregar os contribuintes e nós, o elo final desta cadeia de sorvedouros e desvarios vários, vamos abrir os cordões a bolsa e pagar. Quem banca a Banca? Infelizmente, todos nós.

Francisco Mota Ferreira

Consultor imobiliário