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Os 100 metros e a maratona

22 de março de 2021

Na Banca contam-se estas duas histórias que, confesso, desconheço se são reais ou inventadas, mas que se tornaram ao longo do tempo mitos urbanos que vão sendo replicadas como exemplos da nossa forma de acharmos que somos mais espertos que todos os outros.

A primeira ainda é do tempo dos escudos e diz respeito a um funcionário de um Banco que todos os meses desviava das contas da agência 1$00 e que acabou por ser apanhado porque começaram a aparecer queixas de pessoas de idade que estranharam que o Banco em questão lhes tirasse essa quantia da conta todos os meses. A segunda, já na era dos euros, dá conta de um alto quadro que terá desviado milhões de euros deixando rasto suficiente para o Banco saber quem era o responsável, mas completamente às cegas relativamente ao destino do dinheiro, uma estratégia para poder chantagear a instituição bancária e ficar com parte do bolo. Conta-se, que nos dois casos, a coisa não correu bem a nenhum deles e foram castigados sem contemplações.

Cada um à sua medida achou que era mais esperto do que os restantes e pagou o preço. O primeiro, menos ambicioso e talvez a pensar pequeno, o segundo mais confiante e a pensar em grande, mas a realidade mostrou-lhes certamente que de nada valeu a estratégia de enriquecimento ilícito.

No nosso mundo imobiliário pululam histórias que se podem enquadrar num e noutro exemplo. Mediadores e agências que se queimam e queimam a sua reputação por uns meros milhares de euros e os outros que, quando enganam, tentam fazê-lo nos negócios de seis dígitos, onde as comissões e os acordos são definidos nos escritórios de advogados ou à mesa de um qualquer restaurante de luxo.

Uns e outros são o pior que o sector tem para oferecer, num mercado sem regulação efectiva e onde, ao contrário do que acontece na Banca, o crime ainda compensa. Contrariem-me se estiver enganado, mas não conheço ninguém do sector que foi preso, que se viu proibido de exercer a actividade ou que, no limite, apareceu a boiar no rio Tejo ou com um andar novo (meio de locomoção e não imóvel, bem entendido) porque pisou o risco ou meteu-se com quem não devia.

Tendo em conta os desafios que se avizinham, em que ouvimos tudo e o seu contrário no que ao imobiliário diz respeito, acho que é fundamental mantermos o rumo: naquilo que somos e defendemos, mas também na confiança que transmitimos aos nossos clientes e parceiros para que possamos apostar no longo prazo e nos negócios que correm bem e nos dão gozo fazê-los.

Ao contrário do que se possa pensar, o tempo joga a nosso favor nesta enorme aldeia que é Portugal, onde todos se conhecem. O importante será sempre construir relações sólidas com quem acredita, como nós acreditamos, que é possível fazer um trabalho sério e honesto com o imobiliário. Argumento que, obviamente, vale para quem só pretende participar em corridas de 100 metros ou para quem quer ir mais longe e ambiciona alcançar um lugar na maratona.

Francisco Mota Ferreira

Consultor imobiliário