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Opinião

 

Da relação humana

24 de maio de 2021

No outro dia, em conversa com alguém que não está ligado ao sector, dei por mim a pensar que, consoante os casos em que encontramos, o imobiliário pode ser como um namoro, um casamento ou uma one night stand.

Quando iniciamos a actividade – e se calha estarmos ligados a uma agência -  é um enorme namoro e deslumbre: vais ganhar X, tens imenso jeito (a versão comercial do romântico “és linda(o)”), eu fiquei rico em dois anos, etc. etc.; quando consolidamos a posição na agência onde trabalhamos, entramos na fase do casamento: descobrimos que nem tudo são rosas, que há coisas boas e menos boas nesta nossa relação e que temos, afinal, de lutar para que a coisa resulte. Porém, se começamos a sentir que estamos a viver num relacionamento desequilibrado, – mais para agência e menos para o consultor – começamos à procura de aventuras lá fora, os negócios por debaixo do pano, as one night stand que, numa primeira fase, não nos fazem abandonar o casamento que temos, mas que, a longo prazo, vão acabar por colocar um ponto final na relação que mantivemos.

Se na relação consultor/agência é assim, quando pensamos na relação entre consultores, a comparação com uma qualquer relação amorosa não deixa de ser também aplicada (e, em certos casos, acaba mesmo por roçar o deboche).

Senão vejamos: somos tendencialmente desconfiados entre nós. Queremos sempre provas de que quem tem o comprador tem-no de facto. Pedimos a qualificação do cliente, a sua referenciação e, todos conhecemos os casos de quem tenta roubar o cliente a quem o trouxe com o argumento silly que este teve uma relação connosco no passado porque nos quis comprar um qualquer activo.

Por outro lado, se temos o activo angariado, é um drama partilhá-lo em pleno, fornecendo, por exemplo, a morada exacta. Exigimos NDA´s e outras burocracias imensas. Porque sabemos que os contratos não são eternos e um exclusivo hoje pode terminar de repente porque apareceu alguém com um cliente comprador que acaba por fazer o negócio directamente, não passando necessariamente por nós. E, como percebemos pelo último artigo, todos nós conhecemos histórias de quem adora ir por trás, certo?

Mas, quando acreditamos – mesmo à conta de, inicialmente, alguns quilos de papel e algumas árvores abatidas - a relação floresce e progride, com ganhos e benefícios para todas as partes. Tal como os hippies nos loucos anos 60, partilhamos sem medos, criamos relações de confiança e acabamos por perceber que afinal, com paz, amor (e, certamente, algumas drogas à mistura) conseguimos levar os nossos propósitos a bom porto. E encontramos a fórmula de sucesso que nos permite ir (sobre)vivendo nesta vida e nesta profissão que, como sabemos, consegue ter o melhor e o pior dos dois mundos.

Dir-me-ão que tudo o que descrevi acaba por ser óbvio, até porque numa actividade que é de pessoas para pessoas, é natural que existam todos os ingredientes para uma telenovela mexicana: paixão, amor, traição, dinheiro ou sucesso. Elementos que fazem parte de uma qualquer relação humana que cada um de nós tem que saber gerir com cuidado e atenção. Estejamos na fase do namoro, do casamento ou apenas à procura de uma one night stand.

Francisco Mota Ferreira

Consultor imobiliário