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Opinião

 

A casa no centro da vida

27 de julho de 2020

E se de repente fôssemos obrigados a ficar confinados em casa durante meses? Ao mesmo tempo, trabalhar, estudar, fazer as tarefas domésticas e relaxar nesse espaço que hoje acaba por ter uma função praticamente utilitária?

Há uns meses, parecia um cenário impossível. Mas numa semana tudo mudou e eis que nos vimos confinados e “obrigados” a viver a nossa casa, que de repente virou o centro de todas as esferas da nossa vida – a profissional, a familiar, a de lazer...

Nem sempre foi fácil. Pessoalmente, com dois filhos, de 11 e 15 anos a estudar à distância, eu e o meu marido a trabalhar também remotamente. E um cão! De quantos escritórios precisávamos para conciliar estas agendas? E onde é que nos podíamos “refugiar” para uma pausa? E os espaços que têm que ser utilitários e reservados para as tarefas diárias da casa e da família, podem ser “reocupados”?

Em tempos de guerra não se limpam armas, e por isso, no imediato, o que fizemos foi aumentar para o máximo a capacidade da internet e adaptar o terraço para uma diversidade de funções. Sabíamos que seria uma situação temporária, mas a perceção de que uma circunstância que não controlamos nos pode alterar toda a vivência em questão de dias, levou-nos, em família, a pensar em reformular a casa. O objetivo principal era ter um espaço de privacidade para trabalhar e para gerir as necessidades das crianças em casa. Curiosamente, não fui a única a ter este pensamento. No estudo que a JLL realizou vimos que quase 50% dos portugueses faria ajustes na sua casa na sequência da experiência “pandémica”, sendo a criação de um espaço de trabalho a intervenção que mais se deseja (51% das pessoas), seguida pela modernização do espaço exterior (34%). Estes dois espaços, pela importância que assumiram durante o confinamento, foram também os que ganharam maior relevância quando se pensa em procurar uma nova casa. E isto não são apenas indicadores de sentimento, são realidades efetivas. Na JLL, só nos últimos três meses, já em pleno confinamento, a venda e arrendamento de casas com terraços aumentou 24%. A procura por casas com espaços exteriores já estava a crescer antes da pandemia, mas o confinamento veio intensificar a importância destes espaços. Dão-nos maior sensação de bem-estar, podemos praticar exercício físico ao ar livre ou simplesmente relaxar. Todos temos a certeza de que viver quase 24h/24h em casa sem um espaço exterior privativo foi muito mais penoso! No meu caso, o terraço transformou-se em escritório, em ginásio e em espaço de lazer. Aqui fiz o meu yoga diário.

Quanto à criação de um escritório, é algo também cada vez mais em cima da mesa quando se procura uma casa. A pandemia evidenciou a necessidade de “recuperar” este tipo de espaço em casa. Digo recuperar, porque, provavelmente, muitos de nós, em algum momento, já tivemos um escritório em casa que acabou por ser “sacrificado” para outros fins, seja porque surgiram novas necessidades ou porque, em determinada altura, deixou de fazer sentido “levar o trabalho para casa”. Acontece que agora o teletrabalho veio para ficar. É uma nova realidade, que não é invasiva da esfera privada (pelo contrário, pretende incentivar a conciliação entre a vida privada e a profissional), mas que exige um espaço próprio em casa.

Resumindo, a pandemia veio “re-apresentar” usos que estavam esquecidos na casa e esta nova forma de olharmos este espaço vai contribuir para a dinamização da procura deste tipo de imobiliário. O mercado residencial obviamente ressentiu-se com a pandemia – sobretudo no fluxo das vendas–, mas é altamente resiliente, já dá sinais fortes de retoma e será uma das grandes alavancas da nossa economia.

Patrícia Barão

 Head of Residential na JLL