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Arquitectura

 

Porto: historiador quer inventário de edifícios “intocáveis” para evitar demolições

23 de maio de 2019

O historiador Hélder Pacheco defendeu hoje a elaboração de um inventário dos edifícios de interesse patrimonial no Porto para evitar a destruição de imóveis como a histórica moradia de Pinto Bessa que foi recentemente demolida.

"O que era preciso era fazer rapidamente um inventário da arquitectura portuense, rua a rua. Há um ‘masterplan' que a SRU [Sociedade de Reabilitação Urbana] elaborou em função das casas habitadas e desabitadas, era preciso fazer outro das habitações intocáveis, digamos assim", afirmou em declarações à Lusa.

Hélder Pacheco recorda que a primeira vez que foi feita alguma coisa nesse sentido foi na rua Álvares Cabral, que foi classificada de uma ponta a outra, apesar de já lá haver "atentados".

O historiador considera, contudo, que nos últimos 20/30 anos, do ponto de vista do património, o Porto "não se pode queixar", apesar de "aqui e ali" ter havido algumas intervenções "menos felizes".

"A Foz Velha foi protegida, o que foi uma grande conquista. O Farol de São Miguel está finalmente a ser recuperado, as igrejas do centro histórico foram todas reabilitadas e têm sido dados passos gigantesco em matéria de património, veja-se o caso da Torre dos Clérigos, que é um sucesso", defendeu.

 

Casos «lamentáveis»

Ainda assim, o historiador considera que a demolição de uma moradia de 1914 da autoria do arquitecto Francisco de Oliveira Ferreira que, como noticiou a Lusa, até 2005 constava do Inventário Municipal e que "subitamente" foi retirada do mesmo, "é lamentável".

"O arquitecto em questão é um arquitecto de referência, autor de edifícios como a Câmara de Gaia ou o edifício dos Fenianos, e esta moradia de Pinto Bessa não tinha forçosamente de ser demolida. Pinto Bessa precisava de ter um arranjo urbanístico - arborizada, com passeios mais largos - e a função da moradia podia ser conservada, ainda que para outros fins, mas mantendo os elementos arquitectónicos", defendeu.

Já quanto à demolição do jardim centenário nas traseiras do Cinema Trindade, para onde está prevista uma unidade hoteleira, Hélder Pacheco desvaloriza a questão, sublinhando que a área em questão "não tinha categoria" tendo em conta a envolvente.

O historiador considera ainda que também o caso da Quinta do Vilar, junto ao Palácio de Cristal, que esteve em vias de proteção, e que está a ser transformada num empreendimento de luxo que contempla a remodelação do palacete centenário e a construção de 43 novos apartamentos, não é "grave", uma vez que a moradia está a ser reabilitada para habitação, algo que se vê em muitos países da Europa.

Já Germano Silva, que foi doutor Honoris Causa pela Universidade do Porto, lamentou, em declarações à Lusa, que se "esteja a atravessar um período onde tudo está a desaparecer com o imobiliário desenfreado".

No caso da Quinta do Vilar, local que conheceu de perto, Germano Silva estranha a transformação do espaço para onde estão previstos 43 novos apartamentos, já que, segundo informações da antiga moradora, o jardim, que se estendia quase até à Casa Tait e onde nasceu o novo edifício, estava classificado.

"Acho que é um património que devia ser preservado", disse, salientando que é preocupante assistir à destruição do património da cidade.

Germano Silva salienta, contudo, que esta atitude tem sido transversal a todo o século XIX e até anterior, como demonstra a destruição da muralha Fernandina.

"Podíamos fazer um apelo aos políticos, mas acho que não resultaria", concluiu.

Lusa/DI