Casa E.1027 da arquitecta Eileen Gray reproduzida em exposição no Porto

É hoje inaugurada na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP) uma exposição que apresenta o quarto – à escala real - da casa E.1027, um dos mais icónicos projetos modernistas, da autoria da arquitecta anglo-irlandesa Eileen Gray (1878-1976).

"Eileen Gray. Arte Total: Casa E.1027 à escala 1:1" é o título desta exposição que é hoje inaugurada, às 17:30.

A exposição, que permanece na FAUP até 3 de Janeiro de 2020, revela, pela primeira vez, em Portugal, a casa E.1027 - construída entre 1926 e 1929 -, incursão inicial de Eileen Gray, então com 52 anos, no mundo da arquitectura, concretizada em conjunto com o seu então companheiro Jean Badovici, arquitecto, crítico e editor da revista de vanguarda L’Architecture Vivante.

Depois de ter estado patente no Mebanne Hall em Austin, no Texas, Estados Unidos, em 2017, e na Akademie der Künste, em Berlim, este ano, a exposição tem curadoria dos arquitectos Wilfried Wang e Carolina Leite, estudante de doutoramento da FAUP.

Localizada na encosta rochosa da Côte d‘Azur em Roquebrune Cap Martin, no sudeste da França, a casa E.1027 constituiu para Eileen Gray, mais do que a oportunidade de aplicar novos conceitos espaciais, um verdadeiro manifesto, revisitado nos seus subsequentes projectos, no qual todas as vertentes artísticas estão interligadas, com destaque para a arquitectura e o design.

No projecto, uma das referências maiores do movimento modernista, todos os elementos da casa são desenhados no sentido de uma harmonia global, e, mais do que as paredes, é o mobiliário que define e caracteriza os espaços, recorda a organização.

A exposição decorre de um processo de investigação que envolveu uma equipa de estudantes e colaboradores do escritório Hoidn Wang Partner, em Berlim, sob a direcção de Wilfried Wang, co-curador desta exposição, com o apoio de Peter Adam (1929-2019), amigo pessoal de Eileen Gray.

O projeto de investigação culminou na reprodução à escala real de todos os elementos que compõem o quarto principal da casa E.1027, proporcionando aos visitantes da exposição a possibilidade de emergir num dos espaços icónicos da arquitectura do século XX, na sua dimensão material através das cores, texturas, materiais, proporções, escalas e que permitirão revelar as características singulares da arquitectura da casa E.1027.

Muitos destes objectos, assim como a estrutura dos espaços, foram realizados por estudantes da FAUP, em oficinas coordenadas pelo professor Alberto Lage.

Le Corbusier e Eileen Gray

O arquitecto suíço Le Corbusier (1887-1965), que viveu a maior parte da sua vida em França, considerado o arquitecto mais importante do século XX, era visitante regular e grande admirador da casa E.1027.

Entre 1938 e 1939, Le Corbusier pintou diversos murais na casa E.1027 sem pedir autorização à arquitecta.

A intervenção foi considerada por Gray como uma afronta à obra, deteriorando as relações com o arquitecto, mas um conjunto de cinco murais, dos sete pintados por Le Corbusier, permanecem na casa.

Foi nas proximidades da casa E.1027 que Le Corbusier projectou, na década de 1950, uma pequena casa de férias denominada Le Cabanon, projecto hoje classificado como Património da Humanidade pela UNESCO, e considerado um marco da arquitectura modernista.

Eileen Gray nasceu em 1878, na Irlanda, em 1898 entrou na Slade School of Arts, em Londres, para estudar pintura. Em 1902, mudou-se para Paris.

Entre 1926 e 1929, projectou com o arquitecto romeno Jean Badovici a casa de férias E.1027, em Roquebrune Cap Martin, no sudeste da França.

Em 1937, Le Corbusier convidou Eileen Gray a expor um dos seus trabalhos no Pavillon des Temps Nouveaux, em Paris.

Ao longo da sua vida, continuou a desenvolver diversos projectos que nunca chegaram a ser construídos. Morreu aos 98 anos, em Paris.

A exposição é acompanhada por uma monografia com 288 páginas ilustradas sobre a casa E.1027, publicada pela editora Wasmuth, já disponível nas livrarias.

A exposição é organizada pela FAUP, pela Universidade do Texas em Austin, pelo Krafna Arquitectos (Porto) e por Hoidn Wang Partner (Berlim).

Lusa/DI