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Uma luz ao fundo do túnel?

11 de fevereiro de 2015

Apesar do mau tempo que se fez sentir este ano em Cannes, com frio e chuva, e de não se conseguir perceber se estavam todos os quase 20.000 participantes que a organização do Mipim reclama, foi talvez a primeira vez desde os últimos três anos que não voltámos com uma sensação de andar a “pregar no deserto”. Lentamente, à medida que vão surgindo notícias mais positivas sobre Portugal, tal como a colocação de dívida pública ou à medida que se vai dissipando o receio de uma eventual saída do Euro, notamos que alguns investidores começam a indagar-nos sobre as oportunidades de investimento no nosso país.

Mas que ninguém se engane: o prémio de risco exigido por estes investidores é elevado e todos sabem fazer bem as suas contas. O produto procurado tem que ter qualidade e sobretudo um preço muito atractivo. Digamos que voltámos a figurar no mapa, ainda que timidamente e sem saber até quando, dada a volatilidade das boas notícias (agora foi o Chipre...). Se de alguma confirmação precisasse, mais uma vez se nota que a prática anglo-saxónica permite uma saída das crises muito mais eficaz. Falando com irlandeses durante o Mipim, dizem-me que há imensa procura de investimentos imobiliário no seu país e que cada edifício que é posto à venda recebe facilmente dez propostas. É fácil perceber: os preços desceram drasticamente e a percepção dos investidores é a de que este é “o” momento para fazer grandes negócios. Não querendo fazer a apologia dos “abutres”, é assim que os mercados recuperam e voltam a crescer. Infelizmente em Portugal e em geral nos países das Europa do Sul, a prática generalizada é “empurrar com a barriga” ou esconder para debaixo do tapete fingindo que o problema não existe e que o próximo que vier que feche a luz.

É verdade que em Portugal os preços não subiram como na Irlanda, porque os bancos não financiaram o imobiliário como neste país, mas também porque o nosso mercado é menos desenvolvido e menos líquido e a nossa economia não cresce há mais de dez anos!

É claro que quem puder não vender neste momento não o deve fazer, mas quantos são os que se podem gabar de estar nesta posição? Os primeiros a perceberem esta realidade vão ser os primeiros a resolver os seus problemas e a estarem na linha da frente quando o mercado recuperar. É verdade que há uma luz ao fundo do túnel, mas é preciso ter cuidado para que não seja um comboio que vem em sentido contrário.

PS: há uma característica transversal a todos os estrangeiros com quem contactei no Mipim: todos acham que vivemos num país extraordinário, com umas condições fabulosas e que Lisboa é das cidades mais bonitas e atractivas que conhecem. A grande maioria que já visitou Portugal, repetiu e quer mais. Posto isto, está nas nossas mãos tornar o nosso mercado num produto único, onde é bom viver e investir.

Francisco Horta e Costa
Director Geral - CBRE