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Opinião

 

Sem embandeirar em arco

12 de fevereiro de 2015

As transacções imobiliárias concretizadas em Portugal têm vindo a crescer, em grande parte pela crescente confiança que os investidores, nacionais e estrangeiros, estão a revelar relativamente ao nosso imobiliário, há também uma certa reabertura das instituições financeiras no que toca ao crédito para habitação mas não podemos para já embandeirar em arco.

Esta expressão radica na tradição da nossa Marinha de engalanar os navios, em dias de festa, com a colocação de bandeiras e outros galhardetes nos cabos que saem do topo dos mastros para a proa e para a popa. Este era (e é) o sinal exterior de festa, sinal que conferiu à expressão que lhe corresponde a ideia subjacente de um optimismo exagerado.

O mastro principal da nau do imobiliário português será, metaforicamente, o da Reabilitação Urbana que atrai investidores interessados nas possibilidades que se abrem com a renovação das cidades, com o reaparecimento do mercado do arrendamento urbano ou com o incremento do turismo residencial, nomeadamente nas nossas cidades com história, mas esta tendência ainda não justifica a euforia da festa.

Reconhecendo que há um renascimento do sector imobiliário português, potenciado por programas  como o da Autorização de Residência para Investidores e o do Regime Fiscal para Residentes não Habituais, e pela recuperação da confiança do mercado interno, onde as poupanças voltam a acreditar no imobiliário como investimento seguro e de retorno, reconhecendo a existência destes sinais é, no entanto, prudente que as manifestações de regozijo sejam comedidas.

É verdade que, reconquistada a confiança, o imobiliário pode funcionar como saída para quem resistiu sem perder poupanças acumuladas e quer, agora, em aplicá-las em segurança para obterem rendimentos complementares que compensem percas sofridas durante a própria crise. Isto está já a acontecer mas não podemos iludirmo-nos ao ponto de julgarmos que a recuperação do sector irá reeditar o boom verificado nos anos 80 e 90 do século passado.

Mais do que festejar os promissores sinais que estão a reaparecer no imobiliário português importa consolidar estas tendências, alertando, por exemplo, para os perigos da excessiva gula fiscal sobre o património, nomeadamente em sede de IMI, incompreensivelmente alvo de reavaliações brutais quando a crise mais atingia, como ainda atinge, as famílias portuguesas, e reclamando uma atitude mais amiga de quem está interessado em investir nesta área.

Há sinais muito positivos e esperançosos para o imobiliário português que indiciam o presente ano de 2014 como o ano um da recuperação do sector, uma recuperação que, no entanto, não está garantida e depende do que venhamos, todos nós, a fazer pelo próprio sector. Quando sublinho este todos nós, refiro-me literalmente a todos - à procura, à oferta e principalmente aos responsáveis políticos de quem se espera a inteligência suficiente para não deitar a perder o que esses sinais positivos prometem. Sem euforias nem embandeiramentos em arco.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP - Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa