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Opinião

 

Reabilitação tem de juntar várias disciplinas

11 de fevereiro de 2015

A construção de novos edifícios implica um consumo de matérias-primas que se estima oscilar entre 400% a 800% superior às necessárias para obras de reabilitação, pelo que esta constitui assim não só uma necessidade como também um imperativo em termos da eco-eficiência do parque edificado.

Neste contexto e alguns académicos têm apelado à necessidade de uma abordagem multidisciplinar que inclua arquitectos, engenheiros de várias especialidades, especialistas em climatização e energia e instaladores. Contudo esta mais ou menos óbvia concepção de multidisciplinaridade é redutora e manifestamente insuficiente.

Por um lado porque parece esquecer que há um aspecto fundamental, o da toxicidade dos materiais de construção, aspecto crucial em termos da qualidade do ar no interior das habitações, relativamente ao qual os actuais arquitectos e engenheiros civis, pela especificidade da sua formação, não estão habilitados para dar a resposta mais adequada.

Por outro lado é diferente pensar uma operação de reabilitação energética feita para uma população com um elevado nível de habilitações literárias ou para uma população com a escolaridade básica ou com uma elevada percentagem de analfabetos. Um estudo recente da autoria de um investigador do Departamento de Arquitectura da Universidade de Cambridge que incidiu numa amostra de 401 habitações da cidade alemã de Aachen, revelou a existência de comportamentos individuais ao nível da ventilação manual das habitações manifestamente ineficiente em termos energéticos. E note-se que em termos médios a população desta cidade (e também da amostra seleccionada) terá decerto um nível de habilitações literárias superior ao de uma amostra similar em qualquer cidade Portuguesa.

Tenha-se presente a este respeito que de acordo com os Censos de 2011, 19% da população não possui qualquer tipo de formação e 25% nem sequer passaram do ensino básico. Há por isso necessidade de integrar sociólogos nas referidas equipas que permitam ajudar a modelar ao nível de projecto o comportamento dos utilizadores. Estas devem ainda ser complementadas com especialistas não só em questões económicas que são no actual contexto soció-económico fundamentais, como também em ferramentas de análise multi-critério que permitam uma análise integrada e optimizada das inúmeras variáveis que devem ser levadas em linha de conta no contexto da reabilitação eco-eficiente.

F. Pacheco Torgal
Investigador da Unidade C-TAC, Grupo de Construção Sustentável, Universidade do Minho