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Opinião

 

Os indignados amadores

14 de julho de 2020

Isto de ser consultor imobiliário tem, de facto, muito que se lhe diga. No meu caso, que alio a profissão à paixão que tenho em escrever, permite-me ter sempre algo para dizer (ou, no caso, concreto, para escrever). Não chego ao ponto de afirmar que a minha vida dava um filme indiano, mas confesso-vos que há dias em que anda bem lá perto.

Já tinha reparado na tendência que existe online, nomeadamente nas redes sociais, dos justiceiros dos bits e dos treinadores de bancada. Se o tema é futebol ou política, por exemplo, tudo o que possa sair fora do mainstream é sucesso garantido para uma polémica que pode durar dias ou apenas algumas horas. O que interessa mesmo é deitar abaixo o que se acabou de publicar, numa tentativa de mostrar que nós seremos os tontos e do outro lado é que se encontram os sábios.

Se, em temas como a política ou o futebol este é um terreno fértil, confesso-vos que descobri recentemente que o imobiliário tem também os seus justiceiros e nós, que usamos as redes sociais como complemento ao nosso trabalho de divulgação – ou seja, não andamos aqui a brincar às casinhas - estamos também sujeitos a esta forma de bullying.

Por exemplo, se colocamos um T1 em Lisboa para arrendar por, digamos, 650 euros, há sempre alguém a lembrar que o ordenado mínimo em Portugal são 700 euros, como não existissem outras opções mais acessíveis ou como se o mercado e as leis da oferta e da procura não pudessem funcionar por si, sem que estes justiceiros dessem a sua sentença.  Igual fenómeno ocorre na venda de imóveis, com estes supostos revoltados a achar que está tudo caro e que ainda viram no outro dia um apartamento por metade desse valor mesmo na rua de baixo ou qualquer outro argumento pateta que lhes satisfaça o ego por 30 segundos e lhes permita, que, a coberto do anonimato ou na aparente segurança do ecrã, possam dizer as maiores alarvidades opinativas.

O problema não está na opinião que cada um destes desocupados sociais possa ter sobre uma miríade de assuntos, incluindo, naturalmente, o imobiliário. O disparate, como sabemos, é livre e cada um usa-o na dose que entende ser a adequada ao seu QI. O problema está é que, muito provavelmente, estas são as mesmas pessoas que ficam revoltados se alguém calha de lhes fazer o mesmo nas suas publicações, contestando as suas sábias palavras.

No fundo, são indignados amadores. Não os classifico como profissionais. Para já porque, manifestamente não o são – pelo menos no sector imobiliário. E, bem vistas as coisas, pelo tempo que dedicam a injuriar as publicações dos outros sobre os mais variados assuntos, não serão certamente profissionais de nada. Apenas amadores. E fracos.

Francisco Mota Ferreira

Consultor Parcial Finance