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Negócios em tempo de crise

11 de fevereiro de 2015

Estamos numa época em que as palavras mais escritas são crise, recessão, dificuldade, obstáculo, défice e muitas outras negativas que enchem as notícias de todos os jornais. O imobiliário é um dos que mais tem utilizado essas palavras e já há alguns anos que não se consegue fugir delas.

Mas também dizem que estes períodos servem para fazer a triagem e deixar só no mercado as empresas que tenham uma estratégia empresarial. Até pode ser verdade mas não é totalmente justo.

Infelizmente existem muitos projectos, pequenas e médias empresas que têm trazido inovação e algum dinamismo ao sector e que não têm conseguido sobreviver. Mas é nestas alturas que mais se põem à prova os talentos, as vocações e um espírito empreendedor. A necessidade aguça o engenho, costuma-se dizer.

Também no imobiliário, têm surgido alguns negócios, podem não ser totalmente inovadores mas vêm ocupar um espaço que neste momento existe no mercado porque entretanto outras empresas fecharam ou porque não se adaptaram às necessidades actuais.

Também dizem os especialistas, que quem inicia um negócio em tempo de crise, se sobreviver é sinal de sucesso no futuro. Sobre esta teoria tenho algumas dúvidas, porque empreendedorismo é sinal de um grande esforço a todos os níveis e que muitas das vezes não traz o retorno financeiro na mesma proporção ao investimento.

A propósito de empreendedorismo e que não diz respeito directamente ao imobiliário mas que tem sido um tema que nas últimas semanas tem dado que falar em jornais e redes sociais: o caso do jovem Martim que criou uma linha de roupa. Ainda sobre a resposta dada pelo jovem ao facto de ser melhor ganhar o ordenado mínimo do que estar desempregado e que foi aplaudido por muitos e criticado por outros.

Esta é a resposta que espelha o espírito português: Mais do que ganhar o importante é participar. Ora vamos ficar felizes, se podemos ganhar uma miséria, sempre é melhor do que estar desempregado. Este é o espírito de quem é pequeno, de quem tem uma visão limitada do que podemos fazer. Por isso, a nossa posição sempre submissa perante os outros. Foi essa visão que nos levou à situação actual.

Quando temos dinheiro gastamos desmesuradamente e quando não o temos vamos de mão estendida pedir aos outros. Na História de Portugal, num momento de riqueza quase infindável, depois de descobrirmos o Mundo, conseguimos a proeza de ir à bancarrota duas vezes.

Numa época mais próxima, depois de receber o dinheiro dos subsídios da Europa durante três décadas, conseguiu-se voltar novamente à iminência da bancarrota. E não será a última. Porque estes factos que mencionei não foram os únicos em que Portugal não conseguiu segurar as riquezas que possuía e nem teve a capacidade para produzir mais.

Temos quase 900 anos de História, somos o segundo país da Europa mais antigo como Nação com o seu território definido geograficamente. Então em quase nove séculos de existência e não conseguimos um período minimamente estável a nível económico? Porquê? A grande resposta para isso, tem uma palavra: mentalidade. Este espírito, esta forma de estar na vida, faz parte integrante do povo português, que critica mas nada faz e pouco produz.

E para terminar o raciocínio sobre a questão do jovem Martim e do empreendedorismo, o que importa ter em conta é que criar negócio é muito importante, louvável e de incentivar. Não só para quem os cria como pela capacidade de gerar emprego.

E esta é a equação simples, uns têm de criar negócio para dar trabalho a outros. E isso, não implica explorar o próximo. Porque o direito a uma vida digna e com qualidade merecem os que criam trabalho e para os que trabalham por conta de outrem e não é a ganhar 485 euros por mês. Todos merecemos mais do que isso, quando o direito à habitação custa muito mais do que esse salário mensal.
FernandaPedro
Directora
Diário Imobiliário