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Nuno Fideles: 1º e único arquitecto com a acreditação BREEAM AP

27 de setembro de 2018

O arquitecto Nuno Fideles da Savills, recebeu a acreditação internacional BREEAM AP (Accredited Professional), tornando-se no primeiro e único arquitecto com esta acreditação em Portugal e a integrar o GreenBookLive. Em entrevista ao Diário Imobiliário revela a importância desta acreditação.

Como é receber a acreditação Breeam AP e ser o único arquitecto português com essa distinção?

Um orgulho muito grande, não tanto pelo facto de ser o 1º Profissional em Portugal, mas sim pelo desafio ganho de concluir um processo de acreditação complexo e intensivo de reconhecimento internacional e que permite, isso sim é o mais importante, ter os conhecimentos e soluções concretas para ajudar a criar um mundo mais sustentável através da arquitectura, e tudo isto se torna ainda mais importante quando atravessamos um tempo em que os recursos naturais e o nosso planeta estão cada vez mais em perigo, e por isso a importância da sustentabilidade. O facto de poder ser parte interveniente neste processo de retrocesso que já nos afeta e que acredito que se vai intensificar num futuro próximo, é o que me deixa orgulhoso, pelo facto de poder contribuir para um mundo melhor.

Em que consiste essa acreditação e de que forma valoriza a sua carreira?

Esta acreditação internacional é o resultado de um caminho profissional de 20 anos, em que temas como a sustentabilidade, a eficiência energética e a responsabilidade social acompanharam o meu trabalho como arquitecto, e foi esse curriculum que levou a BRE. Academy em Inglaterra a aceitar o pedido para poder fazer o curso e candidatar-me ao exame que concluí em Inglaterra.

Esta acreditação é também o reconhecimento desse caminho, e que me permite ser um perito reconhecido na área da sustentabilidade fornecendo aos promotores e equipas de projecto, consultoria especializada em sustentabilidade do ambiente construído, projecto e avaliação ambiental.

Como é projectar segundo a Breeam AP?

O sistema internacional de classificação BREEAM define o padrão para as melhores práticas no projecto, construção e operação de edifícios sustentáveis e tornou-se num dos mecanismos internacionais mais abrangentes e grandemente reconhecidas na avaliação do desempenho ambiental de um edifício. As medidas usadas representam uma ampla gama de categorias e critérios de energia para ecologia.

Incluem aspetos relacionados com o uso de energia e água, o ambiente interno (saúde e bem-estar), poluição, transporte, materiais, resíduos, ecologia e processos de gestão.

De facto já muito destas preocupações estão espalhadas e fazem parte de medidas que já integram felizmente a nossa legislação, como a certificação energética de edifícios ou a obrigatoriedade do controlo dos resíduos de obra.

Gostaria ainda de realçar uma questão que pode explicar melhor o que refiro. O custo acrescido de construir um edifício sustentável com certificação ou os métodos BREEAM, perante um edifício construído com as práticas correntes ronda os 2% em estudos efetuados na comunidade europeia.

Como encara a arquitectura actual em Portugal?

Tenho um grande apreço pela Arquitectura nacional e pelos nossos arquitectos.

Felizmente temos dos melhores profissionais do mundo e continuamos a dar cartas internacionalmente, quer na realização de obras de grande qualidade além-fronteiras como projetistas principais, quer na pessoa anónima que trabalha em grandes gabinetes de arquitetos de renome internacional e que têm o seu trabalho extremamente reconhecido pelo mérito e profissionalismo com que realizam o seu trabalho, provando que temos das melhores escolas de arquitetura do mundo.

Outro exemplo dessa qualidade é a quantidade de Arquitectos portugueses que leccionam nas mais famosas faculdades de Arquitectura do Mundo.

 E em termos de carreira? Ainda continua a ser difícil ser arquitecto no nosso país?

Tenho de reconhecer que não é fácil ser-se arquitecto em Portugal. Felizmente ao longo da minha carreira profissional, tive a vantagem de trabalhar com excelentes profissionais como foi o caso do Arquitecto Gonçalo Byrne durante quase 12 anos no seu gabinete ou de conviver com nomes importantes da nossa “praça” como os Aires Mateus, o Ricardo Bak Gordon ou ainda irmãos Mateus da ARX, onde tive a oportunidade de aprender de um modo muito próximo o melhor da Arquitectura nacional e inclusive de perceber o reconhecimento que a nossa arquitectura tem no exterior.

Passando à realidade em Portugal, a arquitectura na minha visão, ainda é muitas vezes um patinho feio, nomeadamente pelo facto de o arquiteto, ser usado por necessidade para “licenciar” e não pelas suas reais capacidades de desenhar espaços urbanos ou edifícios/ espaços de qualidade, para as pessoas.

Mais recentemente foi com grande tristeza que vi a aprovação do diploma por parte do nosso parlamento de uma lei que permite que os engenheiros possam assinar projectos de arquitectura, sem se discutir a sério a profissão dos arquitectos, acrescido do facto que temos um dos mais altos números de arquitectos per capita na Europa e que a nossa profissão em muitos dos casos é ainda tratada com precariedade. Julgo que todos (Arquitectos e Engenheiros) temos um espaço próprio no desenvolvimento dos projectos, sem que para isso seja necessário este tipo de medida.

Quero no entanto deixar uma nota positiva, já que o quadro começa a desanuviar-se e vivemos um período onde a aposta na reabilitação está a tornar-se numa alavanca para todos e isso claramente poderá ajudar um reconhecimento mais consistente da nossa profissão.

Felizmente para mim, há uns anos a esta parte e ainda em vésperas de saída da crise que afectou todo o universo da construção, a Savills, na altura Aguirre Newman, através da Patrícia Liz, CEO da Empresa, e da Joana Rodrigues, directora do departamento, convidaram-me a integrar os seus quadros, onde os desafios têm sido enormes e onde posso ver de forma bem mais optimista um futuro risonho na Arquitectura.