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Gadanho prepara 2ª exposição no MoMA

10 de fevereiro de 2015

Pedro Gadanho o primeiro arquitecto português curador de arquitectura e design do Museum of Modern Art de Nova Iorque (MoMA) - http://www.moma.org/ -, revela ao Diário Imobiliário o conceito da segunda exposição que organiza e que abrirá ao público no Verão. Um ano depois em Nova Iorque sente-se um homem feliz e realizado.

Como tem sido a experiência como Curador do MoMa, um ano depois?

Vindo de uma prática de curadoria em regime free-lance, depois do necessário período de adaptação aos modos de trabalho da instituição, comecei a apreciar verdadeiramente o valor de trabalhar numa organização de um rigor profissional fantástico. A minha primeira exposição, mesmo com os desafios de querer fazer algumas inovações do ponto de vista curatorial, foi um processo incrivelmente suave e perfeito. Isto gera uma confiança na equipa que é fundamental para iniciar novos projectos. Neste momento, com uma nova rotação da colecção a caminho para este Verão e projectos de exposições mais ambiciosos já aprovados para 2014 e 2016 não poderia estar mais contente com as oportunidades que estou a usufruir.

Quais os maiores desafios que têm sido encontrados até agora?

Possivelmente não são estritamente profissionais, embora esses também aconteçam num regime competitivo em que muitos curadores têm que afirmar os seus projectos perante o Museu. Mas diria que a adaptação de uma família de cinco a uma cidade como Nova Iorque é muito mais desafiante...

Que balanço faz da primeira exposição?

Muito positivo. Apesar de ser apenas uma 'pequena' exposição - uma perspectiva sobre a colecção permanente - teve ressonância mediática no campo arquitectónico e parece ser verdadeiramente bem-vinda por um público que está muito para além da audiência exclusivamente formada por arquitectos e apreciadores de arquitectura. A exposição acabou por ser prolongada para além do período previsto, em parte pelo sucesso de afluência, o que quer dizer que muito possivelmente será vista por mais de um milhão de pessoas. E quando se está a falar de uma exposição que defende a capacidade de a arquitectura ser capaz de ter uma atitude política mais abrangente, não exclusivamente submetida a pressões económicas ou de representatividade de poderes instituídos, isto quer dizer que uma mensagem importante foi potencialmente passada para muita gente.

Qual o próximo projecto?

Outra apresentação da colecção, mas desta feita sob a perspectiva de um instrumento de representação que não apenas prolonga e expande as técnicas tradicionais do desenho, mas também revela uma situação cultural mais vasta. Trata-se de uma abordagem da colagem, uma linguagem de concepção e representação visual que atravessa campos disciplinares e que, no campo da arquitectura, está por detrás de uma predominância absoluta do Photoshop - e de uma técnica de colagem em que, particularmente desaparecem as 'costuras' entre as imagens coladas. Trata-se assim de investigar os primórdios e a história desta técnica ou linguagem, incluindo trabalho seminal como o de Mies van der Rohe. Mas trata-se também de estender a mostra até uma noção de collage city como proposta por Colin Rowe, e ao facto de que estamos imersos numa cultura de justaposição, montagem e assemblage que afecta tanto o quotidiano como todos os domínios da expressão artística.

Que diferenças encontra na forma de ver e fazer arquitectura entre Portugal e os EUA?
Totalmente diferente. Em Portugal a arquitectura ainda é feita de modo muito artesanal, o que pode implicar uma componente artística mas também uma determinada limitação de meios, quer nos processos de concepção, quer nos processos construtivos. Nos EUA a produção de arquitectura alterna quase exclusivamente entre a resposta corporativa, empresarial a uma demanda económica de grande escala e a excepção de alguns estúdios dedicados a levar aos limites as consequência e os usos de tecnologias digitais disponíveis para a concepção de arquitectura. Como exemplos conhecidos de ambas as tendências poderia citar os Skidmore Owens and Merril para a primeira e Steven Holl para a segunda.

Encontrou algum espaço para trabalhar em projectos seus de arquitectura?

Essa actividade ficou completamente em suspenso. Pela primeira vez, mesmo que temporariamente, estou exclusivamente dedicado a uma só linha de trabalho - exceptuando, claro, que posso sempre envolver-me activamente na concepção do display das minhas exposições.

É arquitecto, curador, pensador, professor, analista, crítico, em qual dos papéis se identifica mais?

Ser arquitecto informa uma certa forma de pensar. É inevitável. Mas diria que a escrita - que, no fundo, tem algo que ver com projecto - foi sempre o elemento comum entre as minhas diversas actividades e é provavelmente aquela com que mais identifico. Porquê? Talvez porque é a única actividade que, do ponto de vista criativo pelo menos, pode ser completamente livre de condicionamentos.

Com a crise instalada em Portugal que conselhos dá aos jovens arquitectos que estão a começar?

A mesma que daria a outros jovens em Portugal: não ficarem parados. Usarem o tempo que têm nas mãos para investir de forma altruísta e desprendida no seu próprio futuro. Não ficarem dependentes de uma visão tradicional da profissão. Encontrar ideias ou linhas de acção que possam oferecer um modelo de sobrevivência económica out of the box, não necessariamente para o momento imediato mas para o futuro.