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200 milhões de euros para linhas de crédito PME Investe

11 de fevereiro de 2015

Salvaguardar 140 mil postos de trabalho, criar mais 85 mil novos empregos, investir 3,7 mil milhões de euros, para infra-estruturas, equipamentos e reabilitação urbana e 200 milhões de euros para as linhas de crédito PME Investe são alguns dos números que irão fazer toda a diferença no sector da construção, obras públicas e no imobiliário em Portugal. Reis Campos, presidente da CPCI - Confederação Portuguesa da Construção e Imobiliário e da AICCOPN - Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas, em entrevista ao Diário Imobiliário revela quais as medidas mais urgentes para o sector depois de assinar o compromisso com o Governo para a Competitividade Sustentável.

De que forma as novas medidas de incentivo à construção e imobiliário patentes no compromisso para a Competitividade Sustentável irão dinamizar o sector?

Este Compromisso, agora reforçado pela Resolução da Assembleia da República n.º 58/2013, de 18 de abril, através da qual todos os partidos com assento parlamentar recomendam ao Governo a adopção de medidas para o relançamento da construção e do imobiliário, é uma resposta inequívoca a uma situação de ruptura iminente do sector e, tal como é reconhecido pelo próprio Governo, trata-se de um acordo fundamental para inverter a situação em que a construção e o imobiliário se encontra e para que, após 11 anos consecutivos de crise, se possa estabelecer um novo ciclo, capaz de dar confiança aos agentes económicos. Trata-se de uma iniciativa que parte de um diagnóstico aprofundado da realidade do sector e da sua importância inegável para o crescimento e a competitividade da economia.

Com base nestes pressupostos foram estabelecidos sete domínios de intervenção prioritários e cinquenta e duas medidas concretas, cujo cumprimento integral é essencial para evitar o colapso das empresas e para estancar o desemprego. A salvaguarda dos 140 mil postos de trabalho que estão, neste momento, em risco, e a criação de 85 mil novos empregos, são o efeito directo estimado deste verdadeiro programa de emergência, que é a única esperança para um tecido empresarial que se encontra à beira da ruptura.

Quais as mais relevantes e as que serão mais urgentes colocar em prática?

Há que ter presente que estamos a falar de cinquenta e duas medidas transversais a todo o sector, cuja definição parte de um diagnóstico global, pelo que, tal como já referi, é essencial que todas sejam rapidamente concretizadas. Porém, é certo que algumas soluções poderão ter um efeito mais visível e imediato. Antes de mais, é imprescindível garantir o trabalho que neste momento escasseia para as nossas empresas, o que passa pela dinamização do investimento público, mediante a alocação, até ao final da execução do QREN, de cerca de 3,7 mil milhões de euros, para infra-estruturas, equipamentos e reabilitação urbana. Aliás, este é um segmento que, em conjunto com o arrendamento, são essenciais para estabilizar a situação actual do mercado imobiliário que está a penalizar todos – famílias e investidores.

Neste âmbito, destaco, ainda, iniciativas como um programa de financiamento de particulares para a reabilitação de edifícios destinados ao arrendamento e a criação de um Regime Extraordinário de Incentivo ao Investimento Privado, capaz de atrair investimento empresarial e imobiliário em domínios estratégicos como o turismo residencial e a reabilitação. Por outro lado, para fazer face às dificuldades de financiamento das empresas, o Governo irá assegurar a disponibilização de 200 milhões de euros nas linhas de crédito PME Investe, que estão em curso, bem como a disponibilidade das próximas linhas para as empresas do sector. Está ainda contemplado o acompanhamento do processo de internacionalização do sector, designadamente reconhecendo as suas especificidades e que é outra das medidas que destaco, pelo impacto que poderá ter.

O investimento previsto será suficiente para alavancar o sector?

No domínio do investimento público, trata-se essencialmente de garantir a correcta utilização dos fundos comunitários do QREN, que terão de ser utilizados nos próximos dois anos e meio, sob pena de devolução de verbas a Bruxelas. São montantes que ascendem a cerca de 10 mil milhões de euros dos quais, como já referi, 3,7 mil milhões correspondem a investimentos em infra-estruturas.

Note-se que a adequada concretização desta medida representaria, já em 2013, um aumento de 85% nas adjudicações. Porém, estão em causa outras iniciativas, associadas à promoção do investimento privado em áreas como a reabilitação urbana ou o turismo residencial, em que não estão envolvidos recursos do Estado, e que podem dar o contributo necessário ao esperado arranque da actividade.

Haverá algum planeamento e supervisão para gerir esse investimento?

O adequado planeamento e supervisão de todo o compromisso, foi um dos elementos que considerámos essenciais e que se encontra devidamente salvaguardado. Existe uma estrutura de coordenação e acompanhamento, onde a CPCI está representada e que irá mobilizar toda a Administração Pública no sentido de garantir o cumprimento das medidas acordadas, bem como a permanente monitorização e reporte de todo o processo, incluindo as iniciativas no domínio do investimento público.

Os investimentos públicos estruturais serão todos a fundo perdido?

Note-se que estamos a falar de investimentos financiados por fundos comunitários, que seguem as regras estabelecidas neste domínio. Em resultado do processo de renegociação do QREN, as taxas de comparticipação poderão situar-se nos 85%, que é um valor muito expressivo.

Como se irá aplicar o Projeto “ReUrbe – As Empresas na Regeneração Urbana" estabelecido com a Associação Industrial Portuguesa? Qual o apoio que se prevê nesta parceria?

Esta é uma resposta inequívoca da Confederação aos desafios que assumiu, na sequência do Compromisso subscrito com o Governo no dia 8 de março, o qual, como já vimos, contempla a Reabilitação e o mercado do arrendamento como uma das áreas prioritárias de intervenção. A mais-valia do Projeto conjunto “ReUrbe – As Empresas na Regeneração Urbana”, reside, precisamente, no facto de estar focado no tecido empresarial. Ou seja, parte das empresas e é dirigido para as empresas.

Desta forma, queremos fazer um diagnóstico profundo e conhecedor da realidade do mercado, envolvendo as empresas e fazendo-lhes chegar toda a informação sobre oportunidades, apoios, legislação e incentivos disponíveis. Na prática, queremos superar a ausência de uma visão integrada deste mercado, situação que tem inviabilizado a concretização sustentada de investimentos na reabilitação urbana.

Temos como objectivo melhorar o conhecimento sobre as intervenções em reabilitação urbana, aumentar a qualificação da oferta e o grau de inovação das empresas focalizadas neste mercado, apresentar propostas fundamentadas que permitam a efetiva redução dos custos de contexto que ainda penalizam em demasia este tipo de intervenções, como é o caso de toda a burocracia actualmente associada aos processos de licenciamento, a criação de estímulos e de apoios eficazes às empresas e ao investimento empresarial na reabilitação e maximizar as oportunidades de acesso às medidas e instrumentos de política de promoção da reabilitação, designadamente no período de financiamento estrutural comunitário 2014-2020.

E a internacionalização das empresas de que forma pode ser apoiada e incentivada?

Há duas dimensões distintas que é necessário abordar ao nível do apoio ao processo de internacionalização das empresas e que foram expressamente incluídas no Compromisso. A primeira prende-se com a necessidade de desenvolver uma diplomacia económica capaz de dar uma resposta efectiva às especificidades do sector. Refiro-me, em particular, a aspectos de natureza burocrática, destinados a atenuar eventuais barreiras à entrada das empresas nos mercados exteriores, como vistos de trabalho, processos de reconhecimento de títulos académicos e questões alfandegárias, bem como assegurar um melhor posicionamento perante a concorrência de outros países e um adequado acesso às oportunidades de negócio.

A segunda dimensão está associada ao efectivo reforço das redes empresariais nacionais, permitindo o alargamento deste processo a um maior número de intervenientes. Evidentemente que, também o financiamento e o quadro legal e fiscal deverão ser capazes de responder, adequadamente, às necessidades das empresas.