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NOTÍCIA
Sustentabilidade

 

Temos todas as condições para cumprir o NZEB até 2021

11 de junho de 2018

Foi percursora em Portugal em matéria de sustentabilidade e eficiência energética nos edifícios. A Torre Verde, de 41 apartamentos, no Parque das Nações, em Lisboa, é o maior projeto da arquitecta Lívia Tirone e considerado o edifício em Portugal mais sustentável. Defensora da arquitectura bioclimática, integrou a Task Force Environment and Sustainable Architecture para o Conselho de Arquitectos da Europa, contribuindo desta forma para a elaboração da directiva para a eficiência energética nos edifícios.

Co-fundadora do THNK Lisbon e mentora da iniciativa REBUNDANCE, que visa identificar pontos comuns entre visões futuras de grandes grupos de stakeholders, em tópicos relevantes como a água, alimentação, materiais e energia, Lívia Tirone trabalhou durante vinte anos na construção sustentável, da qual foi pioneira em Portugal e na Europa. Atualmente, define-se como uma protetora do ambiente que desenvolve projetos com objetivos ambiciosos de desempenho energético ambiental e de sustentabilidade social.

Presente na II Conferência Green Project Awards (GPA) dedicada ao tema “Imobiliário e Cidades Sustentáveis para o Futuro das Gerações”, uma iniciativa da Agência Portuguesa do Ambiente, Quercus-ANCN e GCI, em parceria com o André Jordan Group, que colocou em debate o futuro das cidades, a arquiteta revelou ao Diário Imobiliário o que melhorou na construção do edificado em matéria de eficiência energética.

“Com a certificação energética, que se impôs no ato de transações de imóveis (arrendamento e compra e venda) sem qualquer dúvida que se conseguiu trazer uma nova dimensão para a consciência das pessoas – a do desempenho energético. Isto foi um passo importante!”, revela. A especialista adianta ainda que seria agora mais que interessante, uma vez que a diretiva Europeia nos acompanha há mais de 10 anos, fazer uma avaliação efetiva do desempenho do meio edificado em Portugal, tendo em consideração fatores como o grau de conforto que as pessoas conseguiram nas suas casas e nos seus locais de trabalho, não apenas o consumo energético. “E comunicar isto transversalmente ajudará a consolidar a nova consciência sobre o nosso impacte energético e como podemos desenhá-lo nós próprios”, assegura.

Questionada sobre a capacidade dos edifícios portugueses conseguirem cumprir a Diretiva Europeia sobre o Desempenho Energético dos Edifícios - NZEB ( Nearly Zero Energy Building), ou seja, edifícios com necessidades quase nulas de energia, até 2021, Lívia Tirone responde que “se algum contexto climático o pode fazer com um investimento aceitável, é mesmo o contexto do clima Mediterrânico, no qual nos inserimos”.

Na sua opinião, é que o clima oferece temperaturas médias que coincidem com o que nós consideramos confortável – basta desenhar edifícios que transportam para o interior precisamente a temperatura média circundante e disponível.  “Desenhar, recuperar e realizar edifícios incorporando as tecnologias e ferramentas adequadas (mais que comprovadas), resulta em edifícios que são praticamente autónomos na energia que precisam para desempenhar todas as funções que destes precisamos, sobretudo no sector da habitação. Sim, precisamos de aceder às energias renováveis e, porque elas são nossas, isto não deveria ser um problema!”, esclarece.

Mudar mentalidades

E o que ainda falta fazer para que se construam edifícios mais eficientes é preciso, segundo a especialista, “alterar mentalidades - muito simples. Precisamos de pensar sobre ‘propriedade’ e sobre ‘responsabilidade’ – menos simples”.

Acrescenta também que “precisamos de colaborar transversalmente com todos os atores que desempenham um papel na criação dos edifícios – desde o dono de obra ao município que licencia, aos especialistas e equipa de projeto, ao beneficiário final... muitos mais ainda – mesmo complexo, mas tem mesmo de ser!”. Para a arquiteta é preciso ganhar consciência que os edifícios, para além de belos, precisam de ser uma extensão de nós e uma reflecção do que a natureza aperfeiçoa há bilhões de anos.

Existem ainda grandes áreas que parecem precisar de atenção imediata, segundo a especialista, “uma delas e mais premente é a da
água, é impossível continuarmos a utilizar a água como o fazemos hoje – 6 a 12l de água potável vão pela sanita abaixo cada vez que a utilizamos.

*Artigo publicado no Jornal Económico no âmbito de uma parceria com o Diário Imobiliário