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Reino Unido fora da UE: Consequências no imobiliário português

24 de junho de 2016

De que forma a saída do Reino Unido da União Europeia vai afectar o mercado imobiliário português e as relações financeiras entre os dois países a nível de investimento e negócios imobiliários?

O Diário Imobiliário falou com alguns especialistas que traçaram algumas perspectivas e consequências sobre esta saída e a opinião é generalizada: apesar de não ser positivo para a Europa, as relações económicas entre Inglaterra e Portugal são históricas e isso irá superar os obstáculos que vão surgir com este afastamento do Reino Unido.

Apesar dos ingleses não serem o principal investidor em imobiliário, sobretudo na capital portuguesa, são no entanto, um dos investidores mais antigos e regulares de produto imobiliário na região do Algarve. Nesse sentido, Rafael Ascenso, director geral da Porta da Frente, empresa de mediação imobiliária no mercado de luxo, revela que apesar de ser um pouco difícil fazer previsões, uma vez que a saída vai começar a ser negociada agora e só efectivada daqui a dois anos, considera que tudo vai depender do que for acordado.

É muito natural que os ingleses saiam do nosso país e vendam as suas propriedades aqui

“No entanto, penso que corremos dois riscos. Primeiro, a desvalorização da Libra e a consequente perda de poder de compra dos ingleses. Que assim terão mais dificuldade e atracção para investir em Portugal.

Segundo, se os ingleses perderem a capacidade de circular e viver em países da União Europeia, é  muito natural que saiam do nosso país e vendam as suas propriedades aqui”, admite o responsável.

Contudo, Rafael Ascenso tem esperança que o sentimento anti união europeia não alastre a outros países que constituem mercados muito fortes no nosso imobiliario. Casos da França e Suécia. “Acredito que depois deste abalo virá um período de adaptação e que o nosso mercado não será afectado”, salienta.

Grã-Bretanha sempre esteve com um ‘pé fora e um pé dentro’ da União Europeia

César Neto, presidente da Associação dos Industriais da Construção de Edifícios - AICE, mostra também alguma apreensão pela situação. Ao Diário Imobiliário revela no entanto, que esta era uma situção já esperada porque a Grã-Bretanha (GB) sempre esteve com um ‘pé fora e um pé dentro’ da União Europeia. E só a fragilidade dos líderes da Europa Continental, permitiu incongruências e indefinições, admitindo excepções às medidas sobre a moeda, sobre Schengen, e muitas outras excepções, feitas à medida de interesses que não favoreciam a União Europeia (UE), como federação de interesses.

O responsável adianta vários cenários: “Penso que esta decisão que provocou no imediato algum pânico, especialmente nos mercados e nas pessoas a trabalhar na ilha e na parte continental, se vai esbater, ao longo dos próximos dois anos que o tratado prevê de preparação da saída. A realidade económica e financeira, lembro que a GB é o maior importador da Alemanha e o inverso também é verdade, são factores que vão fazer ponderar ambos os lados. E em mercados globais por muita pujança económica e peso histórico, o isolacionismo é negativo”.

Quanto às consequências para Portugal, César Neto, revela que sob o ponto de vista psicológico, algumas reacções dos empresários e dos turistas oriundos do Reino Unido, poderão abalar um pouco a normalidade que se estava a viver. Mas os instrumentos da EFTA (Associação Europeia de Comércio Livre), não muito diferentes dos que a UE pratica, proporcionarão nos próximos tempos de ajustamento, alguma acalmia e pré-normalidade das transacções comerciais e da movimentação de cidadãos. E a segurança mundial muito afectada, será um pólo de agregação de necessidades e de  interesses, por muito que sejamos individualistas.

Os nosso mais velhos aliados não conseguirão esquecer o nosso sol

O presidente da AICE acredita que nos encontramos numa fase de grandes oportunidades, para que a UE possa reformular de uma vez o seu modelo, permitindo aos países integrantes, uma vivência una e indivisível, nos bons e maus momentos. “O Reino Unido ao isolar-se, perderá mais do que uma UE requalificada e mais forte, se o souber fazer.

Portugal continuará a ter uma relação privilegiada na economia, na fraternidade e no acolhimento dos mais velhos aliados, que não conseguirão esquecer o nosso sol, a nossa afabilidade e gastronomia e apesar de uma libra mais fragilizada - por enquanto, lhes permite por cá, usufruir o que dentro da sua ilha custa muito mais e que muitas vezes não têm”, conclui.

Também a AEP – Câmara de Comércio e Indústria, é de opinião que apesar de que a vitória do “Brexit” constitui uma perda para as empresas e para a economia portuguesa e há ainda a considerar o caso específico do turismo e do IDE britânico no nosso país.

Contudo, “é caso para dizer que o Reino Unido pode ter deixado a União Europeia, mas Portugal jamais poderá perder o seu mais antigo aliado”.