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Faltam infraestruturas para "boom" turístico na Ilha da Boavista

31 de março de 2018

A ilha cabo-verdiana da Boavista vai duplicar a sua capacidade hoteleira nos próximos quatro anos. São 200 milhões de euros de investimentos e seis mil novos empregos, um crescimento para o qual, admitem as autoridades, a ilha não está preparada.

Com quilómetros de praias de águas límpidas e areias douradas, a ilha da Boavista é o segundo maior destino de visitantes do arquipélago cabo-verdiano, a seguir ao Sal, e a nova "galinha dos ovos de ouro" do turismo. Não é por acaso que o maior areal da ilha, a praia de Santa Mónica, com mais de 18 quilómetros de extensão, está este ano no Top20 do The Trip Advisor 2018 Travellers Choice awards e é o local escolhido pela maior parte dos investimentos turísticos previstos ou já em construção.

A ilha, que concentra já meia dúzia de grandes "resorts" na modalidade de turismo "tudo incluído", receberá nos próximos anos mais quatro grandes empreendimentos turísticos, segundo disse à agência Lusa o presidente da Sociedade de Desenvolvimento Turístico das Ilhas da Boavista e Maio (SDTIBM), Luís Silva.

 

Carência de habitação para trabalhadores do turismo

Dois desses empreendimentos estão já em fase de construção e, ainda este ano, deverão arrancar mais dois, segundo o responsável, investimentos que rondam os 200 milhões de euros, irão duplicar a capacidade hoteleira nos próximos quatro anos e criar entre cinco e seis mil postos de trabalho.

Um crescimento que irá aumentar a pressão sobre uma ilha que, segundo o presidente da Câmara, José Luís Santos, tem um défice de 2.000 habitações, não "tem um palmo de esgotos", sistema de tratamento de lixo ou respostas em matéria de saúde.

A ilha abriga também um dos maiores bairros de barracas do país, onde se concentram mais de dois terços dos habitantes e a maioria dos trabalhadores do sector turístico.

O autarca defendeu, por isso, em entrevista à agência Lusa, a necessidade de responsabilizar os promotores dos novos investimentos hoteleiros, impondo como condição para aprovação dos projectos a construção de casas para os trabalhadores.

"Senão daqui a poucos anos vamos ter uma ilha completamente cheia de barracas", defendeu.

"O que tem acontecido na Boavista não é desenvolvimento. A Boavista tem crescido. O desenvolvimento implica um investimento público que acompanhe minimamente o investimento privado e isso não tem acontecido e tem colocado grandes desafios à ilha", acrescentou.

Por seu lado, o presidente da SDTIBM receia que uma medida desta natureza implique a perda de competitividade na atracção de investimentos.

Para Luís Silva, é às autoridades públicas que compete encontrar soluções para os problemas habitacionais, ainda que em parceria com os investidores privados.

"Se colocarmos entraves, os investidores vão para outro sítio. Temos de ter respostas de acordo com os investimentos, mas não podemos utilizar isso como uma condição porque senão podemos ficar sem investimento", salientou.

 

“Qualificar e requalificar os destinos da Boavista e do Maio”

Luís Silva reconhece, contudo, que o modelo de desenvolvimento turístico adoptado na ilha não tem tido o impacto desejado nas comunidades.

"Há uma necessidade clara de qualificar e requalificar os destinos da Boavista e do Maio, para termos um desenvolvimento mais harmonioso e não a duas velocidades", disse.

Nesse sentido, Luís Silva adiantou que o trabalho da organização passará por um maior incentivo ao investimento em pequenas unidades hoteleiras, o que permitirá diversificar o destino turístico e a participação de empresas nacionais, sem capacidade para grandes investimentos.

No mesmo sentido, José Luís Santos sustenta que a ilha não tem tirado o devido proveito do fluxo turístico.

"Temos de investir a vários níveis para que esta ilha possa ser, de facto, a galinha dos ovos de ouro, um destino turístico de excelência. Não podemos continuar a vender a ilha da Boavista no estado actual", referiu o autarca.

Os dois responsáveis entendem que este é também o momento de Cabo Verde reduzir as isenções que concede aos promotores hoteleiros que investem no país, como recomendou recentemente o Fundo Monetário Internacional (FMI).

"Neste momento há uma procura e já é altura de pensar diferente. Primeiro, havia necessidade de pôr Cabo Verde no mapa do turismo, agora convém ajustar este processo e tirar maior proveito desse desenvolvimento turístico", disse o presidente da SDTIBM.

Por seu lado, José Luís Santos considerou "normal" o Governo ter feito algumas concessões iniciais para atrair investimentos, mas defendeu que deve "diminuir paulatinamente" esses incentivos para poder ter recursos e investir na qualificação do destino turístico.

Em 2017, a Boavista recebeu 28% dos mais de 700 mil turistas que visitaram Cabo Verde e concentrou 36% dos 4,5 milhões de dormidas. A ilha foi o destino de 31% dos portugueses que visitaram o país.

A Boavista representa 27,6% da capacidade de alojamento turístico e concentra quase 22% dos cerca de 9.000 trabalhadores hoteleiros cabo-verdianos.

A Boavista tinha, em 2016, uma população de 15.534 habitantes e uma taxa de desemprego de 7,9%, quase metade da média nacional.

Lusa/DI