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Internacional

 

FMI traça cenário “mais sombrio”: recessão mundial de 4,9% em 2020

24 de junho de 2020

O Fundo Monetário Internacional (FMI) piorou hoje as previsões macroeconómicas para a recessão esperada em 2020, apontando agora para uma queda de 4,9% da economia mundial, depois de ter estimado uma recessão de 3% em Abril.

"A pandemia de covid-19 teve um impacto mais negativo na actividade na primeira metade de 2020 do que o antecipado, e está projectado que a recuperação seja mais gradual do que anteriormente previsto. Em 2021, o crescimento mundial está projectado nos 5,4%", menos 0,4 pontos percentuais que nas previsões de Abril, pode ler-se na actualização das Perspectivas Económicas Mundiais hoje divulgadas pelo FMI.

O FMI destaca que "o impacto adverso em famílias de baixos rendimentos é particularmente agudo, comprometendo o progresso significativo feito na redução da pobreza extrema no mundo desde os anos 1990".

 

Consumo fraco e investimento moderado 

"As projecções de consumo privado mais fraco reflectem uma combinação de um grande choque adverso na procura agregada devido ao distanciamento social e confinamento, bem como um aumento das poupanças. Para além disso, o investimento deverá ser moderado, dado que as empresas adiam as despesas de capital, devido à maior incerteza", aponta o FMI.

Em 2021, "é esperado que o consumo se fortaleça gradualmente (...) e também é esperado que o investimento cresça, mas permaneça moderado", e o PIB mundial deverá exceder o de 2019.

No entanto, a instituição liderada por Kristalina Georgieva assinala que as previsões hoje apresentadas contêm e são realizadas em contexto de incerteza, dependendo "da profundidade da contracção no segundo trimestre de 2020 (para o qual ainda não há dados completos), bem como da magnitude e persistência do choque adverso".

No grupo das economias avançadas, na qual se inclui Portugal (apesar de não haver referências explícitas ao país) é esperada uma recessão de 8,0% em 2020, uma quebra maior (1,9 pontos percentuais) do que a esperada em Abril pelo FMI, dado que "parece ter havido um impacto maior na actividade na primeira parte do ano do que o esperado, com sinais de distanciamento voluntário ainda antes da imposição de confinamentos".

Para 2021, "a taxa de crescimento das economias avançadas deverá fortalecer-se para 4,8%, deixando o PIB de 2021 para esse grupo 4% abaixo do nível de 2019".

Nas economias em desenvolvimento, a queda em 2020 é agora projectada pelo FMI como devendo ser de 3%, "dois pontos percentuais abaixo das Perspectivas Económicas Mundiais de Abril", com a recessão nos países de baixos rendimentos estimada em 1%.

 

Comércio “contraído”...

O FMI estima ainda que o comércio mundial "sofrerá uma contracção profunda este ano, de 11,9%, reflectindo consideravelmente o enfraquecimento da procura para bens e serviços, incluindo o turismo", mas deverá recuperar 8% em 2021.

Em termos de inflação, as projecções foram revistas em baixa, com maiores cortes em 2020 (e recuperação em 2021) e para as economias avançadas, o que "globalmente reflecte uma combinação de menor actividade e preços mais baixos das matérias-primas, apesar de nalguns casos ser compensada pelo efeito das taxas de câmbio e depreciação nos preços de importação".

 

Vacina é ‘benção’ também para a economia

Os principais riscos identificados pelo FMI para a sua previsão, tanto positivos como negativos, estão relacionados quer com a possibilidade de aceleração de tratamentos para a covid-19, quer com a possibilidade do surgimento de novos surtos da doença, que podem acelerar ou retardar, respectivamente, a actividade económica.

O FMI aponta que nos países com "elevados níveis de dívida", como é o caso de Portugal, esses níveis "poderiam constranger a profundidade de mais apoio orçamental - e colocarão um desafio importante a médio e longo prazo para muitos países".

A instituição apela ainda ao recurso ao multilateralismo no combate à pandemia de covid-19, devendo os decisores políticos "cooperar para abordar os problemas económicos associados a tensões comerciais e tecnológicas, bem como as falhas no sistema multilateral de comércio, baseado em regras".

Lusa/DI